17/08/2005

I

VACAS MAGRAS

            Os meses de julho e agosto deste ano, foram e estão sendo meses terríveis para o governo Federal. Primeiro, no aspecto político iniciado ainda  no mês de junho, com seus efeitos devastadores em termos de siglas partidárias e coligações da base governamentista, depois o imperialismo do senado em aprovar o salário mínimo em 384 reais. Ficou ainda pior a não captação dos recursos que Palocci tinha preditado, onde pretendia mudar o perfil da dívida, ou seja, resgatar títulos indexados em moeda estrangeira nas mãos dos bancos e investidores estrangeiros através da captação a taxa de 19,75%, o que não aconteceu. Os possuidores dos títulos, na verdade, são os mesmos clientes de investimentos, e sabedores que iriam trocar moeda forte em baixa por um preço muito menor do que compraram a um ano atrás.

            Diante desta conjuntura, com prejuízos irrecuperáveis aos exportadores e, de certa forma, também aos importadores de bens de circulação (não imobilizado) que não conseguiram girar suas mercadorias, estamos diante de uma recessão enorme, restando o governo defender os níveis baixos de inflação, aliados ao aumento do superávit primário (receitas maiores que despesas orçamentárias).

            E o empresário, aquele que gira a economia, detentor dos 2/3 do PIB brasileiro, juntamente com o consumidor, vai ficar ainda mais em dificuldades, pois diminuíram os níveis de negócios, e conseqüente, a renda, sem vislumbrar a curto prazo melhoras no consumo interno, a mercê de tributos jamais vistos.

            Pior pode ficar se nesta semana a Câmara dos Deputados aprovar o salário mínimo assinalado pelo Senado. O Governo tem até 31 de agosto para enviar ao Congresso Nacional o plano orçamentário para 2006, e nele, tinha a pretensão de lançar o Salário Mínimo, de 300 para 321 reais. Imaginemos se ficar no patamar de 384 reais para 2005, como ficaria o orçamento para 2006.

            O déficit previdenciário neste ano, sem o aumento do Senado, está previsto para 34 bilhões (5% do PIB). Com a aprovação, elevaria mais 12 bilhões de reais, praticamente consumindo todo o superávit primário economizado por Palocci.

            Por outro lado, se houve um murmúrio de “desobediência civil” para não recolhimento dos impostos. Já ouvimos que alguns empresários estão somente esperando a liderança de alguma entidade forte, para iniciar o processo. Este comportamento tem previsão civil e penal, o que, de sã consciência, jamais se aconselharia. Mas são de atitudes fortes, e até por vezes não previstas ou fora das regras da lei que se vê atendida uma mudança, como acontece nas revoluções, manifestações populares anti-governos, com ou sem bandeira partidária.

            De toda a sorte, mesmo com todos os ventos favoráveis do segundo semestre diante das festas de final de ano, não acreditamos que haverá recuperação econômica. Sinais de melhoras pontuais já aparecem, mas a demanda está muito aquém da capacidade de produzir.

            Tempo de colocar meia sola como diziam os antigos, prejudicando os que vende calçado novo. Repensar vinte e quatro horas por dia.

 

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Enio Gehlen – Economista e Contador
GEHLEN CONSULTORES
http://www.gehlenconsultores.com.br

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