09/09/2005

Dívida Pública

 

Ouvimos falar que a dívida do Brasil está estagnada e que a economia está tudo sob controle. Ouvimos também que a inflação foi controlada e que estamos achando ótimo o nível de crescimento previsto para este ano, agora ampliado para 3,5% sobre o PIB anterior. Ainda ouvimos dizer a indústria está crescendo, temos mais gente com carteira assinada ... tudo mais.

A população brasileira dobrou nos últimos vinte e cinco anos e tenderá a dobrar para os próximos trinta anos – como nos imaginarmos um Brasil com 360 milhões de habitantes em 2035? Bem, não vamos pensar daqui a trinta anos – é o que muitos pensam, deixando este problema para o governo.

A dívida pública consolidada passa dos 800 bilhões, com prazo médio para pagamento em três anos. O PIB do Brasil está estimado para este ano de 2005 em atingir 1.700 bilhões, esperando um crescimento de 3,5% de aproximadamente 57 bilhões. A taxa de juros da dívida brasileira não é toda ela 19,75%, pois tem muita dívida indexada em moeda estrangeira com taxas de 3 a 4% ao ano. Esta dívida estrangeira somente pode ser paga com superávit da Balança Comercial e de Serviços, o que estamos no caminho, embora o limite da indústria brasileira de alguns setores esteja no limite da tecnologia.

Diante deste quadro, não há como dizer que nossa economia está sob controle. Não temos níveis de produção interna suficiente para o mercado interno, o que nos leva a importar muitos produtos que a nossa indústria não foi incentivada a produzir – até pela competição com as importações, pois mesmo ao dólar há mais de 3 reais, era mais conveniente importar os produtos do que importar tecnologia para produzir por aqui.

O déficit da previdência é ainda uma expectativa, e o rombo deverá ser ainda maior do esperado no orçamento. Os gastos públicos de funcionamento (sem investimentos e pagamento dos serviços da dívida – juros e encargos) são muito acima do que se pode imaginar qualquer empresário que está acostumado à premissa de “não gastar antes de arrecadar”.

Assim, estamos levando onde a União em grandes dificuldades e o Estado do Rio Grande do Sul está esperando um milagre para iniciar a operar uma mudança de atitude – brecado pelos tais de direitos constitucionais ou mesmo os direitos adquiridos. 

Quando o empresário se depara numa situação dessas só tem uma saída e não é com água e açúcar ou passando a mão na cabeça das pessoas que vai resolver. Tem que tomar uma atitude forte, quebrando paradigmas e regras, em benefício do bem social. Para isso, tem que ter o apoio incondicional do Congresso Nacional e do Judiciário, sem o qual, como tentativas anteriores, esbarra no judiciário pela ilegalidade de seus atos. Não estamos induzindo a desobediência das regras mas com democracia elas não serão quebradas.

Esta revolução de atitudes somente se fará com um pacto nacional muito forte, entre os principais setores econômicos e sociais do país, com transparência, lealdade, diferente de como aconteceu no início do governo Lula, que teve o maior aval da história, e se mostrou incompetente para gerenciar este processo. A união do Governo, Congresso, Empresários e Judiciário deverá acontecer, sob pena de voltarmos ao tempo do império.

A dívida externa não é a preocupação, pois esta é a longo prazo e ela foi direcionada ao desenvolvimento, que bem ou mal surtiu efeito.

Concluindo, precisamos de alguém que bata forte na mesa, nos mostre a realidade dos fatos, não em cesta básica ou bônus de escola ou fome, mas de atitudes para que o empresário, heróico carregador de piano, seja um parceiro muito maior para distribuição de bem estar. Não basta cada um fazer a sua parte. É necessário que se levante mais cedo, se durma mais tarde (e de preferência no emprego) para produzir o suficiente, vislumbrando um futuro melhor, desde que se tenha um projeto. Sem este sacrifício e sem o pacto social,  não acredito em dias melhores em curto prazo.

 

Enio Gehlen – Economista e Contador
GEHLEN CONSULTORES
http://www.gehlenconsultores.com.br

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